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Cineclube Patrícia Ferreira Pará Yxapy

Texto curatorial por Dheik Praia
Âncora 2

Pensar a construção de um Cinema ou de um rastro Audiovisual, que possa nos representar enquanto mulheres, requer algum exercício mínimo de reelaboração da realidade que queremos. A mulher nesse papel central na construção de narrativas, propõe uma costura sensível, que não está desligada de sua rotina. O que é visto ao assistir um filme, é apenas um fragmento de toda a ebulição sangrada, cicatrizada na retina da mulher Cineasta. 

 

Ter espaços como o Cineclube Patrícia Ferreira Pará Yxapy, que priorizam essas narrativas e o diálogo acerca delas, é um grande passo em direção à equidade que tanto reivindicamos. Neste contexto, a partir dos filmes que pude prestigiar sugiro três temas, que acabam por interseccionar elementos do universo sensível: 

 

  • Pertencer é Resguardar a Memória, Mulheres do Norte

  • Um ensaio sobre o sagrado, Mulheres Indígenas

  • Afeto como Ponte para o Sútil, Dissidentes de Gênero

 

Os últimos noticiários nos apresentou imagens do que seria uma das maiores estiagens de todos os tempos na Amazônia, toneladas de peixes emergem sem ter como respirar, comunidades ribeirinhas sem água, isoladas no meio dos bancos de areia. Os filmes que selecionamos para o Programa Mulheres do Norte, trazem em suas abordagens a necessidade de retorno. O futuro é o avanço ininterrupto mas retornar, compreender a necessidade de pertencer a partir da memória, tem se mostrado a base para manter nossa existência como populações na Amazônia. Para além do respeito à sabedoria ancestral, a responsabilidade de cuidar desse conhecimento e repassar para as gerações futuras. 

 

O corpo é o que determina o espaço ocupado. O território traça no corpo a história dos antepassados. Quando um corpo se coloca em movimento, todo o território se movimenta coletivamente. Nos filmes das mulheres indígenas, o corpo-território são impressos na tela de forma distinta. A liberdade estética se dá pela necessidade de firmar uma imagem que consiga traduzir um apelo.  É na performance, na reflexão subjetiva, na auto representação que vislumbramos de modo muito sutil o sagrado, o essencial que mantém o céu suspenso. Algumas perspectivas temem o futuro, outras retornam ao passado, ambas constroem um espaço imaginado tendo o sagrado como elemento crucial. Sagrado enquanto floresta, sagrado enquanto história, sagrado enquanto corpo vivo, que transcreve sua memória.

 

Muito do que se constrói na arte ou na luta contemporânea, é conduzida pelas afetividades. Perceber pequenas sutilezas da rotina, como forma de firmar o que se sente, fortalece vidas. É isso que vamos ver nos filmes conduzidos pelo olhar dissidente. O discurso não é unificado pela dor, apesar dela existir e está muito presente nas entrelinhas de cada frame, mas o que importa é a rede de afeto, de carinho e cuidado que se estabelece para acentuar a força e a vontade de permanecer em luta.

1ª Sessão - Mulheres do Norte

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2ª Sessão - Mulheres Indígenas

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3ª Sessão - Pessoas Dissidentes de Gênero

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